Toda mudança de hábito prolongada acaba tendo efeitos diretos em nossas vidas e a pandemia, depois de dois anos impondo tantas limitações, certamente deixou em todos nós diversas sequelas – principalmente emocionais.
Para os jovens que foram obrigados a frequentar aulas através das telas do computador durante todo esse período, retornar ao ensino presencial pode causar muita apreensão. Não são poucos os casos de ansiedade e depressão na população mais jovem durante o período de distanciamento social e o medo de voltar a frequentar o mundo exterior torna-se cada vez mais comum.
Essa sensação tem nome: “Síndrome da Gaiola”, fenômeno que pode mascarar adoecimentos psicológicos ou provocar outros, se não cuidados corretamente.
Não há dúvidas de que é preciso atenção da família e da comunidade escolar para identificar o que são respostas normais a esta adaptação que o novo mundo impõe e o que são sinais de alerta.
Mudanças ocorrerão e são legítimas e é preciso ficar em alerta para para alterações significativas de comportamentos que denunciam sofrimento. Nesses casos, deve-se acionar a rede de apoio familiar e clínica para assistir e/ou prevenir transtornos psiquiátricos, indicam especialistas.
Entretanto, a volta à vida presencial deve ser feita, mesmo que a passos lentos: o contato presencial é um ambiente fértil – e necessário – para o fortalecimento dos vínculos com o próximo, para o reconhecimento de si e do outro nas relações humanas, além de ser um treino indispensável para as habilidades sociais e de comunicação.
Até mesmo os conflitos gerados pela convivência e os impasses cotidianos, como disputas e pequenos desentendimentos com colegas, são disparadores para a aprendizagem. A própria necessidade de construir soluções para esses conflitos ganha outros contornos quando as crianças e adolescentes estão entre iguais.
É impossível que o ser-humano se construa sem o olhar e a validação do outro, então precisamos compreender que as interações sociais são de extrema importância e não poderão nunca ser substituídas.
Além disso, o ensino por telas aumentou em muito a desigualdade social e a evasão escolar no Brasil. Isso porque 4,9 milhões de estudantes não tiveram acesso ao material didático para continuar os estudos. Segundo dados da Comissão de Educação (CE), 26% dos estudantes da rede pública não têm acesso à internet. Em outubro de 2020, o levantamento do Pnad Covid mostrou que 4,9 milhões de crianças e adolescentes não recebiam as atividades remotas.
Os alunos de baixa renda não têm as mesmas condições de um estudante de classe média, que tem um espaço em casa, com computador, notebook e celular. Para aqueles com menos recursos, se torna inviável ter aulas online, sendo que muitos sequer têm computador e internet. Se já não bastasse, as próprias escolas públicas não tiveram oportunidades de realizar um planejamento adequado para as aulas à distância.
Segundo pesquisa Datafolha, 4 milhões de estudantes brasileiros, com idades entre 6 e 34 anos, abandonaram os estudos no ano passado. Com isso, a taxa de evasão escolar chegou a 8,4% em 2020. A questão foi percebida principalmente em classes de baixa renda.
Outra situação preocupante é a falta da merenda escolar, já que muitos não têm essa alimentação em casa e dependem da comida na escola. De fato, a evasão escolar é uma urgência, assim como outros pontos citados. Daí a importância destes alunos retomarem o seu direito de frequentar a escola.
O caminho para que voltemos a normalizá-las em ambientes presenciais, claro, não é simples – precisa ser olhado com atenção e cuidados -, mas deve ser feito de forma constante e perene. Não há outra saída, pois não é possível almejar um futuro que vale a pena ser compartilhado se esta construção não for feita por todos nós, juntos e nos relacionando.
Isto é ainda mais imperativo aos jovens, que estão no processo de edificação de sua identidade e precisam de referências, experiência e de trocas. O caminho é tortuoso, sem dúvidas, mas precisa ser encarado com coragem e com peito aberto e a ISIC estará sempre lá para acompanhar os estudantes nesta sua jornada.
Se você ainda não tem a carteirinha, que tal fazer a sua agora mesmo?